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Ciclotrama 20 (wave)

2015

270cm x 600cm x 400cm

20 m of 3” sisal rope and 10.000 nails.

Site-Specific Installation for solo show “Ciclotrama”

Zipper Galeria, São Paulo, Brazil.

Curated by Paulo Myada

Photo: Gui Gomes

Ciclotramas.

Texto: Paulo Myada

Ciclotramas.

Text: Paulo Myada

Existem poéticas do espaço e espaços poéticos – e isso não necessariamente tem a ver com as habilidades compositivas de algum arquiteto. Existem também lugares de afeto e afeto por lugares – e isso tampouco remete sempre a alguma beleza inequívoca da forma dos espaços. É que, no caso das espacialidades, afetos e poéticas derivam de vivências e de modos de constituição, respectivamente. Neste aspecto, importa menos a morfologia do que os modos como os espaços se tecem e vestem.

Sem precisar teorizar sobre isso, Janaina Mello Landini se coloca a tecer e vestir o espaço como quem faz e desenrola uma corda. Melhor, como quem desfaz uma corda que se esparrama e gruda nas paredes. Gruda, posto que é linha, amarrando-se a pregos. Muitos pregos, muitas linhas. Cada linha, um prego; e uma só corda que emaranha os pontos de partida dos vetores que atravessam as distâncias entre as paredes.

Diante dessa corda desfeita, destrama, ciclotrama de Janaina, é natural pensar na natureza das raízes das plantas, dos sistemas circulatórios dos corpos, das terminações nervosas dos neurônios, dos feixes elétricos dos raios e assim por diante.
E para quem o natural é o campo das ideias, é fácil passar daí às teorias rizomáticas da filosofia pós-estruturalista.

Mas desaceleremos nas metáforas que nos são sugeridas pelos isomorfismos para pensar mais no que está sendo destecido. As ações subsequentes da artista promovem uma relação peculiar entre um objeto e sua posição no espaço como parte integrante e constituinte dele. Vejamos. Se há uma corda sobre o chão da sala, ainda que a corda seja grossa e longa, a diferença de escala entre a sala e a corda permite identificar entre elas uma relação entre continente e conteúdo, borda e objeto. Porém, à medida que a corda se desmancha, espalha seus ramais e descola-se do chão, ela – embora mais fina – se transforma de algo que está “contido por” para algo que constitui o espaço. A corda, ao ocupar o ar em suas ramificações, fina e frágil, dá conta de alterar a percepção da sala. Antes de notar a parede, antes mesmo de se dar conta de que existem paredes, as ciclotramas se apresentam como transparência e limite. Com efeito, não é possível entrar, pois elas fazem o espaço enquanto o tomam vorazes.

A poética desse espaço, então, só pode ser aquela do campo pleno, que se confunde com sua própria visibilidade, no caso a visibilidade resultante do adensamento das linhas que ligam suas paredes. Por um lado, não há espaço para o visitante, ele está excluído da relação em que continente e conteúdo se equiparam em escala e presença. Por outro, o olhar persistente pode atravessar o emaranhado, alcançando detalhes da arquitetura e se perder confundindo profundidades.

É e não é um vórtice. Na prática não é, porque as linhas não escoam para a corda, mas se expandem a partir dela, sucessivamente dividindo-se em progressão geométrica. Mas também é, como percepção, pois o olhar é tragado pela rede de fios. Quem quiser pode então perguntar: Trata-se de experimentação pura sobre as propriedades e possibilidades escultóricas de um material, a corda? Ou seria esta uma espécie de tratado empírico da natureza da percepção dos espaços? Ou uma metáfora de alguma narrativa implícita?

Respostas exclusivas parecem não caber bem no que diz respeito à arte, mas fico com a impressão de que o exercício da artista reflete, em primeiro lugar, os efeitos desorientadores que decorrem da transcrição para a realidade concreta de algo que, como modelo matemático, é muito simples.
A cada bifurcação a linha se duplica – 2, 4, 8, 16... – e ao mesmo tempo divide sua espessura pela metade – 1, ½, ¼... No limite, haveria o zero, infinitas linhas de espessura zero. Mas zero é coisa de abstração matemática. Na prática, a teoria é outra. Ao invés de fazer referência ao mínimo, o que a ciclotrama enreda é um todo envolvente e sinuoso que toma o espaço e os sentidos de quem a observa.

There are poetics of space and poetic spaces - and this does not necessarily have to do with the compositional skills of any architect. There are also places of affection and affection for places - and nor does this always refer to some unmistakable beauty of the form of the spaces. The thing is that, in the case of spatiality, affections and poetics derive from experiences and from constitution modes, respectively. In this respect, the morphology is less important than are the ways in which spaces are woven and dressed.

Without having to theorize about this, Janaina Mello Landini weaves and dresses the space as one makes and unbraids a rope. Or better, as one who dismantles a rope which disperses and sticks to the walls. It sticks, since it is string, by tying itself to nails. Many nails, many lines. For each line, one nail; and one single rope entangling the starting points of the vectors that traverse the distances between the walls.

In face of this unbraided, unwoven, ciclotrama of Janaina, it is natural to think of the nature of the roots of plants, of the circulatory systems of bodies, of the nerve endings of neurons, of the electrical beams of rays and so on. And, for those to whom the natural is the realm of ideas, it is easy to go from there to the rhizomatic theories of post-structuralist philosophy.

But lets us slow down on the metaphors which are suggested to us by isomorphisms, to think more deeply about what is being unwoven. The subsequent actions of the artist promote a peculiar relationship between an object and its position in space as an integral and constituent part of it. Let us see. If there is a rope on the exhibition room floor, even if the rope is thick and long, the difference in scale between the room and the rope allows for identifying between them a relationship between container and content, edge and object. But as the rope is dismantled, spreads its ramifications all over the ground, it - although thinner – is transformed from something that is “contained by” into something that constitutes the space. The rope, by occupying the air in its branchings, thin and fragile, is able to alter the perception of the room. Before noticing the wall, even before realizing that there are walls, the ciclotramas stand transparent and as a limit. Indeed, it is not possible to enter it, because they make the space while occupying it, voraciously.

Thus the poetics of this space can only be that of the filled field, which is confused with its own visibility, in this case the visibility resulting from the densification of lines connecting its walls. On the one hand, there is no room for the visitor, who is excluded from the relationship in which container and content are equivalent in scale and presence. On the other, persistent observation can see through the maze, reaching architectural details and can lose itself, confusing depths.

It is and it is not a vortex. In practice it is not, because the lines do not seep into the rope, but expand from it, successively dividing itself in geometric progression. But also it is, as a perception, because the perspective is engulfed by the network of threads. One then may wish to ask: Is this is about pure experimentation on the sculptural properties and possibilities of a material, the rope? Or would this be some sort of empirical treatise in the nature of perception of spaces? Or a metaphor for some implicit narrative?

Exclusive answers do not seem to fit well with regard to art, but I get the impression that the exercise of the artist reflects, first and foremost, the disorienting effects arising from the transcription to concrete reality of something that, as a mathematical model, is very simple.
At each junction the line doubles
- 2, 4, 8, 16 ... - and at the same time divides its thickness in half - 1, ½, ¼ ...
At the limit, there would be zero, endless lines of zero thickness. But zero is a thing of mathematical abstraction. In fact, the theory is different. Instead of referring to the minimum, what the cyclorama narrates is an entrancing and winding whole, which occupies the space and the senses of those who observe.

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